vou caindo, só vertigem
o outro existe e não cessa
mastigo o existir
Eu eu eu
também tento demais
dar nome às coisas
e uma multiplicidade morre
em abismo incolor,
ou corre o risco

uma mente determinada
enchendo o mundo de nomes,
é assim: luzes ligam palavras
às outras

às vezes eu as vejo
quase antes
luz quase vindo, palavra
quase acesa e, se ela escapa,
me resta isso

só a pressinto, luz que se atropela -
antes dela! luminoso brilho
do nome

meninas gostam de sentar sozinhas
e de ficar sozinhas,
meninas gostam de abraçar rosas em silêncio,
perfurar cada dedo com cada
espinho

meninas gostam de
exibir raiva como um pavão louco
solto nas ruas, arrebentando em toda esquina uma rua nova
por onde não podem passar

meninas gostam de provar um cigarro esquecido
numa gaveta da sala, desobedecer três ordens
ao dia,
tocar seu sexo tão logo seja cedo,
olhos abertíssimos e atentos,
de dizer "não" a todos os amores
e de não ser homem,
bobas como homens,
presas histéricas
insuportáveis como os homens
As horas lentas e grossas antes do poema
estão em movimento, para o passado e para o
futuro, convulsivas.
Desenrola-se um vazio sem falta
nas horas antes do poema
sem palavras.
Densa passa a água caudalosa,
viva e densa,
lenta e grossa:
as águas que banham o nascer,
a concepção erótica
do poema.
Duas palavras se enroscam na língua.
>Ausência<

Por estar indo
de pés pra frente pode
só se torcer pra
trás, isso é,
caso queira se ver.
Engasgo desejos de ter palavras
enquanto elas as palavras não se sujeitam a possuir-se

Então aprendo amor às palavras
e as seduzo

Seja delas a minha teia